09/08/2016 - Transforme o sentimento de culpa

Vou te contar algo que aconteceu comigo que me deixou por muito tempo com sentimento de culpa.

Certo dia eu estava viajando a trabalho, e uma amiga me ligou para ajudá-la a socorrer um gatinho atropelado. Na hora fiquei em pânico imaginando a cena, pois não posso ver um animal machucado.

E, mesmo não podendo voltar para auxiliar a resgatar o animalzinho, eu fiquei com um sentimento de culpa e remorso por muito tempo.

culpa

Sentimento de culpa, quem nunca sentiu?

A culpa é na verdade um arrependimento por uma atitude tomada de forma equivocada. Nós, simples mortais cheios de imperfeições, queremos atingir a perfeição dos atos e, por não admitirmos os erros que cometemos, nos sentimos culpados quando tomamos atitudes equivocadas.

A primeira grande culpada na história religiosa foi a coitada da Eva que resolveu comer a maçã proibida e, por isso, todos pagam por culpa dela, quando na verdade o ser humano é imperfeito, erra, e não deveria se culpar.

Sentimos culpa ao pensar que deveríamos ter feito algo a respeito de determinada situação e não fizemos, sentimos culpa até  por ter conseguido algo enquanto outros não. E isso é insano.

Mas, acredite, a culpa não é sempre um sentimento ruim, já que o remorso advindo, promove mudanças no comportamento e sentimento de empatia.

Mas, quando este sentimento não é produtivo, ele gera um ciclo de tristeza, vergonha e sofrimento.

Não significa que é bom sentir culpa e sim, que há a culpa produtiva e a improdutiva.

A culpa é produtiva quando te ajuda a crescer e amadurecer e, principalmente, aprender como o seu comportamento ofende ou magoa os outros.

Não há algo mais grandioso e transformador do que aprender com o erro. O problema é manter-se nele.

Ou seja, a culpa é improdutiva quando se torna um sentimento irrefletido, que não gera qualquer tipo de transformação, apenas sofrimento. Essa sensação irracional pode desenvolver um ciclo no qual você se sente culpado sem motivo e o piora ainda mais. 

Por exemplo, muitos pais se sentem culpados por trabalharem fora e deixar seus filhos com babás ou creches, acreditando que causarão danos ao desenvolvimento físico e mental das crianças.

Na realidade, a maioria das crianças se desenvolve normalmente, independentemente de um ou dois dos pais trabalharem fora. O que a criança precisa são de momentos intensos de atenção e amor na hora em que os pais estão livres para ficarem com seus filhos.

Quando você sente a culpa improdutiva, tende a ficar muito autocrítico, e isso pode te levar a perder a autoestima ou começar a duvidar de si mesmo, e isso se torna um terrível problema que assombra a vida e suga a sua energia e bem-estar.

Lembre-se que há inúmeros acontecimentos que não estão sob o nosso controle. Por exemplo, um acidente de carro, em que você estava dirigindo corretamente, e alguém imprudentemente ocasiona um acidente.

Ou um relacionamento que terminou por falta de amor de sua parte, e você se sente culpado por não amar mais aquela pessoa.

Você não tem controle sobre isso. Então, não fique se martirizando, insistindo no “SE”. “Se” eu tivesse escolhido outro caminho, “SE” eu não tivesse me envolvido com aquela pessoa. Enfim, não há a menor possibilidade de você voltar atrás…já está feito. Se insistir nisso, você pode adoecer mentalmente e fisicamente.

O importante é entrar em contato com o sentimento de culpa e determinar melhorar a situação.

Aceite o acontecimento que gerou a culpa, pois o acontecido não irá mudar. Atente-se e conserte, ou amenize o que for possível, peça perdão com teu coração e alma para aquele a quem você feriu ou magoou, mesmo que a pessoa não te perdoe, mas se você for sincero, teu coração ficará mais aliviado.

E o mais importante: perdoe a si mesmo, pois se você não fizer isso, de nada adiantará o outro te perdoar.

Sugiro que você coloque num papel os acontecimentos que geraram culpa. Por exemplo: Não passei na prova porque não estudei o suficiente, e agora me sinto culpado por ter decepcionado meus pais.

Repita afirmações sobre aceitação e tolerância, isso pode te ajudar muito.

Por exemplo: “Eu sei que sentir culpa é difícil, mas eu posso lidar com ela.”

“Eu sou humano, passível de erros, mas estou em constante aprendizado”.

Perceba que todo erro pode e deve gerar um aprendizado. Então, reflita sobre a possibilidade de mudar a forma como age ou fala, evite repetir o erro e siga em frente.

Você pode fazer algo de bom hoje, relacionado a algo de ruim no passado.

Quanto ao gatinho que citei no começo do texto, alguns anos depois, amorosamente, adotei dois gatinhos de rua: a Mia e o Bamboo.

Também resgatei e consegui um lar para três gatinhos, em épocas e “famílias” diferentes.

Continuo até hoje auxiliando os animais, não mais por culpa, mas por amor. E esse amor me curou do sentimento de culpa por aquele gatinho que eu não consegui ajudar.

Que tal você fazer o mesmo em relação aos seus atos e sentimentos?

Transformar a dor da culpa, por um ato de amor?

Simplesmente porque a dor ensina, mas o amor é que cura.

Adriana Medeiroz